O clima carnavalesco já tomava conta de São Luís no último final de semana. Membros da Cáritas Brasileira Regional Maranhão e das Cáritas Diocesanas, no entanto, estiveram retirados na Casa Oásis (Aurora/Anil), realizando o planejamento das ações da entidade para o ano de 2009. 40 representantes de grupos e comunidades participaram da atividade, que ocorreu sexta-feira (13) e sábado passado.
No clima descontraído que caracteristicamente marca as atividades da Cáritas, foram eleitas as prioridades e traçados os objetivos de suas linhas de atuação: políticas públicas e afirmação de direitos, desenvolvimento sustentável e economia popular solidária, além da sustentabilidade da organização.
"A atuação em espaços como o Tribunal Popular do Judiciário, a Romaria da Terra [que acontecerá em setembro, em Codó/MA], compartilhada com outras organizações, além da institucionalização de seis Cáritas Diocesanas até dezembro estão entre nossas metas para este ano", afirmou Ricarte Almeida Santos, Secretário Executivo da Cáritas Brasileira Regional Maranhão.
Entre outras ações, o projeto Tabuleiros de São Bernardo, no município de Magalhães de Almeida, também será problematizado pela Cáritas e as comunidades envolvidas, em um conjunto de atividades que serão realizadas ao longo do ano. Na perspectiva do controle social, um seminário deverá acontecer entre abril e maio, no município. "Em junho faz seis anos que realizamos uma discussão sobre os muitos e grandes problemas do projeto de irrigação, e nada mudou de lá para cá. É hora de retomarmos a questão", finalizou Ricarte.
[Por Zema Ribeiro, da Assessoria de Comunicação da Cáritas Brasileira Regional Maranhão]
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
MANDIOCA FRITA
Camaradas,
vejam como fazer um prato especial de mandioca frita.
Clique no link abaixo para visualizá-la:
http://panelinha.ig.com.br/site_novo/receita/receita.php?id=783
Obs.: Se você clicar no link acima e ele não funcionar, copie e cole o URL em uma nova janela do navegador.
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O DILEMA DO ONIVORO:UMA HISTORIA NATURAL DE QUATRO REFEIÇOES
Michael Pollan. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2007
O que devemos comer no almoço? Este livro é uma resposta longa e complexa para esta pergunta aparentemente simples. Ao longo do caminho o autor explica as implicações desta questão, e discute como uma questão tão simples pôde tornar-se tão complicada. As prateleiras de um supermercado, estágio final da cadeia alimentar contemporânea, são o ponto de partida escolhido pelo autor para começar a responder esta questão. O leitor é convidado a seguir o caminho inverso, reconstituindo o trajeto dos alimentos, desde o prato à nossa mesa até a origem de tudo: o solo. Quanto mais longo e intrincado é o percurso que liga as duas pontas dessa cadeia altamente industrializada, mais ignorantes nós nos tornamos a respeito do que estamos comendo.
Por que é cada vez mais complicado decidir o que almoçar? Os alimentos atualmente são vendidos apenas com base em seus benefícios para a saúde: um é capaz de reduzir seu colesterol, outro tem muitas fibras. Os nutrientes tornaram-se mais importantes que a comida em si, e o alimento tornou-se apenas um intermediário na entrega destas substâncias. Assim, escolher o que comer tornou-se uma decisão para profissionais, e não para amadores. Tem-se a impressão de que é necessário ter um diploma de nutrição ou bioquímica para tal escolha!
Afinal, que mistérios estão por trás de uma bolacha industrializada, de um hambúrguer, ou de um simples item de um cardápio de fast-food, como, por exemplo, um McNugget? Para responder a essa e outras perguntas, o autor leva o leitor a explorar, não apenas intelectualmente, mas sensorialmente, todas as implicações - éticas e ecológicas, econômicas e políticas - relacionadas ao ato de se produzir e consumir um alimento. O resultado da investigação é um misto de reportagem, ensaio e depoimento pessoal, numa obra que surpreende ao revelar que a aparente variedade dos modernos supermercados esconde uma alarmante uniformidade imposta pela superprodução industrial. Para chegar a um diagnóstico sobre o que considera a atual desordem alimentar, Michael Pollan investiga três mundos diferentes: o do cultivo e produção de alimentos em escala industrial, o do florescente negócio da agricultura orgânica (analisando o que tem de promissor e de enganoso), e o mundo ligado à caça e ao extrativismo. Neste último, ensaia uma volta à atividade primeira do Homo sapiens, o onívoro por natureza que todos nós somos.
Observamos que há cada vez mais produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados, criando a impressão de que temos mais tipos de comida disponíveis. Pollan explica que é fato que atualmente podemos encontrar diferentes frutas e vegetais do mundo todo num bom supermercado, muito mais do que encontraríamos cinqüenta anos atrás. Mas, ao analisar as fontes de calorias, nota-se que a nossa dieta está menos diversificada. Mais de dois terços das calorias consumidas diariamente vêm de apenas quatro vegetais cultivados em escala mundial e com grandes interesses econômicos: milho, soja, trigo e arroz. Há um século atrás, havia maior diversidade. Esta aparente diversidade no supermercado obscurece a realidade de que a diversidade de nossa dieta vem encolhendo.
Alimentos altamente industrializados são hoje a base da "dieta ocidental", que domina os Estados Unidos da América e se espalha pelo mundo. Nos últimos anos, a indústria vem lançando alimentos que supostamente seriam menos nocivos. Pollan denuncia essa manobra de marketing, que explora o medo dos consumidores para vender produtos de valor duvidoso. E lança um manifesto que propõe a volta à alimentação tradicional, orgânica e saudável dos nossos avós. Ele dá dicas de como qualquer um pode se alimentar com “comida de verdade”, em vez dos produtos artificiais da indústria alimentícia.
Pela primeira vez na história da humanidade, há mais pessoas obesas do que famintas no mundo. Os acima do peso respondem hoje por 1 bilhão da população mundial, diante de 800 milhões que passam alguma forma de privação na alimentação. As causas principais são más dietas e sedentarismo. Não ficamos fora desta estatística. O Brasil nunca foi tão gordo. Os brasileiros com massa corpórea superior à considerada normal já somam 43 milhões – o equivalente a 43% da população adulta, quase três vezes mais do em meados da década de 1990. Por conseqüência, a quantidade de pessoas em dieta para emagrecer também é enorme: 25% dos homens e 50% das mulheres. É um público propenso a acreditar em regimes que se vendem como capazes de operar metamorfoses na silhueta do dia para a noite, sem prejudicar a saúde.
Verifica-se atualmente uma obsessão em obter os nutrientes corretos, em alimentar-se de maneira saudável, e uma percepção errônea de que basta comer a comida correta que tudo estará bem com você e o mundo todo. Precisamos voltar a nos preocupar em conhecer toda a cadeia produtiva dos alimentos e não ficarmos obcecados com alguns nutrientes. A manutenção da saúde deve ser apenas uma conseqüência, e não o objetivo de comer bem. De forma geral devem ser aplicados cinco princípios éticos para uma escolha consciente na hora das refeições: transparência, equilíbrio, humanidade, responsabilidade social e necessidade.
Há ainda as implicações econômicas e políticas. Este livro é um importante alerta para um Brasil que se pretende transformar numa Arábia Saudita dos biocombustíveis. A afirmação de que não haverá necessidade de desmatamento para a produção e a exportação de grandes quantidades de biodiesel se baseia na avaliação de que grandes áreas de pastagens podem ser convertidas para monoculturas de oleaginosas com um pouco de modernização de nossa agricultura. Nos EUA, são necessárias duas calorias de fertilizantes sintetizados a partir do petróleo para produzir uma caloria de milho. E como o gado bovino é alimentado com milho, quase um barril de petróleo é consumido para cada animal abatido. Os excedentes da produção de milho estão na origem tanto da abundância quanto da obesidade. Os subsídios governamentais são enormes, o alimento industrializado tem preços baixos, mas dão origem aos altos índices de obesidade que custam algo em torno de 90 bilhões de dólares por ano em despesas médicas. Ou esses excedentes atravessam a fronteira do México, onde acabam com os pequenos produtores, aumentando a oferta e reduzido os preços.
Toda uma complexa cadeia de interesses gira em torno da produção de milho, impedindo que cessem os subsídios. A insensatez do agronegócio é objeto de uma análise que revela a importância de saber como se estrutura a indústria dos alimentos que chegam diariamente às nossas mesas. Há ainda a história dos outros três vegetais cultivados em escala mundial.
A industrialização dos alimentos mudou nossa relação com a comida. Como consumidores estamos desorientados, e não sabemos mais de onde vem nossa comida. A cadeia é tão grande que muita criança pensa que a comida vem do supermercado, que o leite vem da caixinha Tetra Pack. Muitas crianças hoje não entendem que a cenoura ou a batata são raízes. A indústria alimentar nos desconectou do fato de que para sobreviver dependemos de outras espécies, com as quais compartilhamos o planeta. Assim, nós entregamos a preparação dos alimentos para empresas de grande escala. Isto pode ser conveniente, porque nos faz ganhar tempo, mas estas empresas não cozinham bem: usam muito sal, gordura e açúcar, e logo a comida se torna altamente calórica e não tão nutritiva.
Em conseqüência nos tornamos mais vulneráveis. Somos vítimas mais fáceis das manipulações dos alimentos fast-food e das propagandas de dietas milagrosas. É uma das razões pela qual temos tantos problemas de saúde relacionados à alimentação. Não confiamos mais em nossas tradições, não sabemos mais como cozinhar. Precisamos tomar de volta a decisão sobre nossas escolhas alimentares e sobre a preparação das refeições. O livro segue por caminhos fascinantes e sua leitura nos faz perguntar se é isso mesmo que queremos para nossa vida.
Credenciais do autor
Escritor e jornalista estadunidense Michael Pollan é colaborador do New York Times Magazine. É professor de jornalismo na University of California, Berkeley, onde dirige o Programa de Jornalismo Científico e Ambiental. É autor de artigos polêmicos sobre a indústria alimentar. Recentemente lançou seu novo livro, In Defense of Food (Em Defesa da Comida), ainda sem tradução no Brasil.
Referências
POLLAN, Michael. O Dilema do Onívoro: Uma história natural de quatro refeições. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2007
POLLAN, Michael. The Botany of Desire: A Plant's-Eye View of the World. New York: Random House. 2001.
POLLAN, Michael. The Omnivore's Dilemma: A Natural History of Four Meals. New York: Penguin Press. 2006.
POLLAN, Michael In Defense of Food: An Eater's Manifesto. New York: Penguin Press. 2008
NOTA: Este último livro já está disponível em tradução ao português: Em defesa da Comida.
O que devemos comer no almoço? Este livro é uma resposta longa e complexa para esta pergunta aparentemente simples. Ao longo do caminho o autor explica as implicações desta questão, e discute como uma questão tão simples pôde tornar-se tão complicada. As prateleiras de um supermercado, estágio final da cadeia alimentar contemporânea, são o ponto de partida escolhido pelo autor para começar a responder esta questão. O leitor é convidado a seguir o caminho inverso, reconstituindo o trajeto dos alimentos, desde o prato à nossa mesa até a origem de tudo: o solo. Quanto mais longo e intrincado é o percurso que liga as duas pontas dessa cadeia altamente industrializada, mais ignorantes nós nos tornamos a respeito do que estamos comendo.
Por que é cada vez mais complicado decidir o que almoçar? Os alimentos atualmente são vendidos apenas com base em seus benefícios para a saúde: um é capaz de reduzir seu colesterol, outro tem muitas fibras. Os nutrientes tornaram-se mais importantes que a comida em si, e o alimento tornou-se apenas um intermediário na entrega destas substâncias. Assim, escolher o que comer tornou-se uma decisão para profissionais, e não para amadores. Tem-se a impressão de que é necessário ter um diploma de nutrição ou bioquímica para tal escolha!
Afinal, que mistérios estão por trás de uma bolacha industrializada, de um hambúrguer, ou de um simples item de um cardápio de fast-food, como, por exemplo, um McNugget? Para responder a essa e outras perguntas, o autor leva o leitor a explorar, não apenas intelectualmente, mas sensorialmente, todas as implicações - éticas e ecológicas, econômicas e políticas - relacionadas ao ato de se produzir e consumir um alimento. O resultado da investigação é um misto de reportagem, ensaio e depoimento pessoal, numa obra que surpreende ao revelar que a aparente variedade dos modernos supermercados esconde uma alarmante uniformidade imposta pela superprodução industrial. Para chegar a um diagnóstico sobre o que considera a atual desordem alimentar, Michael Pollan investiga três mundos diferentes: o do cultivo e produção de alimentos em escala industrial, o do florescente negócio da agricultura orgânica (analisando o que tem de promissor e de enganoso), e o mundo ligado à caça e ao extrativismo. Neste último, ensaia uma volta à atividade primeira do Homo sapiens, o onívoro por natureza que todos nós somos.
Observamos que há cada vez mais produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados, criando a impressão de que temos mais tipos de comida disponíveis. Pollan explica que é fato que atualmente podemos encontrar diferentes frutas e vegetais do mundo todo num bom supermercado, muito mais do que encontraríamos cinqüenta anos atrás. Mas, ao analisar as fontes de calorias, nota-se que a nossa dieta está menos diversificada. Mais de dois terços das calorias consumidas diariamente vêm de apenas quatro vegetais cultivados em escala mundial e com grandes interesses econômicos: milho, soja, trigo e arroz. Há um século atrás, havia maior diversidade. Esta aparente diversidade no supermercado obscurece a realidade de que a diversidade de nossa dieta vem encolhendo.
Alimentos altamente industrializados são hoje a base da "dieta ocidental", que domina os Estados Unidos da América e se espalha pelo mundo. Nos últimos anos, a indústria vem lançando alimentos que supostamente seriam menos nocivos. Pollan denuncia essa manobra de marketing, que explora o medo dos consumidores para vender produtos de valor duvidoso. E lança um manifesto que propõe a volta à alimentação tradicional, orgânica e saudável dos nossos avós. Ele dá dicas de como qualquer um pode se alimentar com “comida de verdade”, em vez dos produtos artificiais da indústria alimentícia.
Pela primeira vez na história da humanidade, há mais pessoas obesas do que famintas no mundo. Os acima do peso respondem hoje por 1 bilhão da população mundial, diante de 800 milhões que passam alguma forma de privação na alimentação. As causas principais são más dietas e sedentarismo. Não ficamos fora desta estatística. O Brasil nunca foi tão gordo. Os brasileiros com massa corpórea superior à considerada normal já somam 43 milhões – o equivalente a 43% da população adulta, quase três vezes mais do em meados da década de 1990. Por conseqüência, a quantidade de pessoas em dieta para emagrecer também é enorme: 25% dos homens e 50% das mulheres. É um público propenso a acreditar em regimes que se vendem como capazes de operar metamorfoses na silhueta do dia para a noite, sem prejudicar a saúde.
Verifica-se atualmente uma obsessão em obter os nutrientes corretos, em alimentar-se de maneira saudável, e uma percepção errônea de que basta comer a comida correta que tudo estará bem com você e o mundo todo. Precisamos voltar a nos preocupar em conhecer toda a cadeia produtiva dos alimentos e não ficarmos obcecados com alguns nutrientes. A manutenção da saúde deve ser apenas uma conseqüência, e não o objetivo de comer bem. De forma geral devem ser aplicados cinco princípios éticos para uma escolha consciente na hora das refeições: transparência, equilíbrio, humanidade, responsabilidade social e necessidade.
Há ainda as implicações econômicas e políticas. Este livro é um importante alerta para um Brasil que se pretende transformar numa Arábia Saudita dos biocombustíveis. A afirmação de que não haverá necessidade de desmatamento para a produção e a exportação de grandes quantidades de biodiesel se baseia na avaliação de que grandes áreas de pastagens podem ser convertidas para monoculturas de oleaginosas com um pouco de modernização de nossa agricultura. Nos EUA, são necessárias duas calorias de fertilizantes sintetizados a partir do petróleo para produzir uma caloria de milho. E como o gado bovino é alimentado com milho, quase um barril de petróleo é consumido para cada animal abatido. Os excedentes da produção de milho estão na origem tanto da abundância quanto da obesidade. Os subsídios governamentais são enormes, o alimento industrializado tem preços baixos, mas dão origem aos altos índices de obesidade que custam algo em torno de 90 bilhões de dólares por ano em despesas médicas. Ou esses excedentes atravessam a fronteira do México, onde acabam com os pequenos produtores, aumentando a oferta e reduzido os preços.
Toda uma complexa cadeia de interesses gira em torno da produção de milho, impedindo que cessem os subsídios. A insensatez do agronegócio é objeto de uma análise que revela a importância de saber como se estrutura a indústria dos alimentos que chegam diariamente às nossas mesas. Há ainda a história dos outros três vegetais cultivados em escala mundial.
A industrialização dos alimentos mudou nossa relação com a comida. Como consumidores estamos desorientados, e não sabemos mais de onde vem nossa comida. A cadeia é tão grande que muita criança pensa que a comida vem do supermercado, que o leite vem da caixinha Tetra Pack. Muitas crianças hoje não entendem que a cenoura ou a batata são raízes. A indústria alimentar nos desconectou do fato de que para sobreviver dependemos de outras espécies, com as quais compartilhamos o planeta. Assim, nós entregamos a preparação dos alimentos para empresas de grande escala. Isto pode ser conveniente, porque nos faz ganhar tempo, mas estas empresas não cozinham bem: usam muito sal, gordura e açúcar, e logo a comida se torna altamente calórica e não tão nutritiva.
Em conseqüência nos tornamos mais vulneráveis. Somos vítimas mais fáceis das manipulações dos alimentos fast-food e das propagandas de dietas milagrosas. É uma das razões pela qual temos tantos problemas de saúde relacionados à alimentação. Não confiamos mais em nossas tradições, não sabemos mais como cozinhar. Precisamos tomar de volta a decisão sobre nossas escolhas alimentares e sobre a preparação das refeições. O livro segue por caminhos fascinantes e sua leitura nos faz perguntar se é isso mesmo que queremos para nossa vida.
Credenciais do autor
Escritor e jornalista estadunidense Michael Pollan é colaborador do New York Times Magazine. É professor de jornalismo na University of California, Berkeley, onde dirige o Programa de Jornalismo Científico e Ambiental. É autor de artigos polêmicos sobre a indústria alimentar. Recentemente lançou seu novo livro, In Defense of Food (Em Defesa da Comida), ainda sem tradução no Brasil.
Referências
POLLAN, Michael. O Dilema do Onívoro: Uma história natural de quatro refeições. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2007
POLLAN, Michael. The Botany of Desire: A Plant's-Eye View of the World. New York: Random House. 2001.
POLLAN, Michael. The Omnivore's Dilemma: A Natural History of Four Meals. New York: Penguin Press. 2006.
POLLAN, Michael In Defense of Food: An Eater's Manifesto. New York: Penguin Press. 2008
NOTA: Este último livro já está disponível em tradução ao português: Em defesa da Comida.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
QUEBRADEIRAS DE COCO VÃO RECEBER AJUDA DE PROGRAMA EXTRATITIVISTA
20/01/2009
Local: Cuiabá - MT
Fonte: 24 Horas News Link: http://www.24horasnews.com.br/
Representantes de quebradeiras de coco babaçu do Maranhão e de órgãos públicos que lidam com temas do meio ambiente e desenvolvimento rural vão se reunir com técnicos da Conab nesta terça (20) e quinta-feira (22), em Imperatriz e São Luís, respectivamente, para conhecerem as ações do Programa de Subvenção aos Produtos da Sociobiodiversidade.
Os extrativistas vão se informar, por exemplo, dos mecanismos de subvenção nas aquisições de produtos que têm amparo da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), como pequi, piaçava, babaçu, castanha-do-brasil, borracha, carnaúba e açaí. A venda desses produtos ao governo permite ao segmento produtivo de algumas regiões, principalmente dos estados do
Norte e Nordeste, ajuda contra as oscilações de preços no mercado.
A exigência de documentos necessários à participação no programa e as formas de implementação do trabalho serão também discutidas com os representantes. Segundo o superintendente de Gestão da Oferta da Conab, Carlos Eduardo Tavares, a idéia é levar as orientações aos extrativistas de vários estados.
O próximo encontro, ainda sem data definida, será com os agricultores amazonenses, cujos grupos familiares exploram extração de borracha natural e castanha-do-brasil. (Raimundo Estevam/Conab)
Local: Cuiabá - MT
Fonte: 24 Horas News Link: http://www.24horasnews.com.br/
Representantes de quebradeiras de coco babaçu do Maranhão e de órgãos públicos que lidam com temas do meio ambiente e desenvolvimento rural vão se reunir com técnicos da Conab nesta terça (20) e quinta-feira (22), em Imperatriz e São Luís, respectivamente, para conhecerem as ações do Programa de Subvenção aos Produtos da Sociobiodiversidade.
Os extrativistas vão se informar, por exemplo, dos mecanismos de subvenção nas aquisições de produtos que têm amparo da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), como pequi, piaçava, babaçu, castanha-do-brasil, borracha, carnaúba e açaí. A venda desses produtos ao governo permite ao segmento produtivo de algumas regiões, principalmente dos estados do
Norte e Nordeste, ajuda contra as oscilações de preços no mercado.
A exigência de documentos necessários à participação no programa e as formas de implementação do trabalho serão também discutidas com os representantes. Segundo o superintendente de Gestão da Oferta da Conab, Carlos Eduardo Tavares, a idéia é levar as orientações aos extrativistas de vários estados.
O próximo encontro, ainda sem data definida, será com os agricultores amazonenses, cujos grupos familiares exploram extração de borracha natural e castanha-do-brasil. (Raimundo Estevam/Conab)
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
NORDESTE TEM MAIOR PROPORÇÃO DE POBRES
Correio Braziliense
19/12/2008
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem estudo mostrando que 77% dos municípios nordestinos tinham mais da metade de sua população vivendo na pobreza no início desta década. Os dados fazem parte do Mapa de Pobreza e Desigualdade 2003.
De acordo com o estudo, a Região Nordeste se caracteriza “pela maior proporção de pobres, pela maior distância média dos pobres em relação à linha de pobreza e onde também a severidade da pobreza era a mais intensa do país”. Em contrapartida, a Região Sul apresentou a menor proporção de municípios com mais da metade da população pobre: apenas 11 municípios, ou 0,6% do total do Brasil.
Para a pesquisa, pobre é aquela pessoa que não consegue ter acesso a uma cesta alimentar e a bens mínimos necessários para a sobrevivência.
19/12/2008
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem estudo mostrando que 77% dos municípios nordestinos tinham mais da metade de sua população vivendo na pobreza no início desta década. Os dados fazem parte do Mapa de Pobreza e Desigualdade 2003.
De acordo com o estudo, a Região Nordeste se caracteriza “pela maior proporção de pobres, pela maior distância média dos pobres em relação à linha de pobreza e onde também a severidade da pobreza era a mais intensa do país”. Em contrapartida, a Região Sul apresentou a menor proporção de municípios com mais da metade da população pobre: apenas 11 municípios, ou 0,6% do total do Brasil.
Para a pesquisa, pobre é aquela pessoa que não consegue ter acesso a uma cesta alimentar e a bens mínimos necessários para a sobrevivência.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
NOVO BOLETIM INFORMANDIOCA
Camaradas,
Vejam o novo número do nosso boletim da Rede Mandioca no link abaixo.
http://www.4shared.com/file/76368557/1157b2ba/boletim-informandioca-05.html
Vejam o novo número do nosso boletim da Rede Mandioca no link abaixo.
http://www.4shared.com/file/76368557/1157b2ba/boletim-informandioca-05.html
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
CUBA, O FURACÃO CHAMADO BLOQUEIO
por Frei Betto*
No próximo 29 de outubro, a Assembléia Geral da ONU, após ouvir o informe apresentado pelo secretário-geral, Ban Ki Moon, votará o projeto de Cuba visando à suspensão do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto à ilha do Caribe pelo governo dos EUA desde 1959.
Será a 17ª vez que a ONU tratará deste tema. Em 2007, dos 192 países-membros das Nações Unidas, 184 votaram a favor do projeto que pedia a suspensão. Infelizmente, suas resoluções não têm caráter obrigatório, exceto as do Conselho de Segurança.
O fato de a maioria dos países condenarem, por 16 vezes, o bloqueio representa um gesto de solidariedade à Ilha e uma derrota moral para a Casa Branca, cuja prepotência se evidencia por não ter a menor consideração para o que pensa a comunidade internacional, que repudia a hostilidade usamericana.
O bloqueio é o principal obstáculo ao desenvolvimento de Cuba. Ano passado, representou, para o país, prejuízo de US$ 3,775 bilhões. Ao longo dos 50 anos de Revolução, calcula-se que o total do prejuízo chegue a US$ 224,6 bilhões, levando em conta a desvalorização do dólar e suas flutuações no decorrer do tempo.
O bloqueio é um polvo com tentáculos extraterritoriais, violando o direito internacional, em especial a Convenção de Genebra, que o qualifica de genocídio. Empresas, bancos e cidadãos que mantêm relações econômicas, comerciais ou financeiras com Cuba sofrem perseguições. A exemplo do que fez a China durante as Olimpíadas, também o governo usamericano bloqueia sites da Internet relacionados com Cuba.
A muito custo o governo cubano tem conseguido abrir pequenas brechas no bloqueio, como ao comprar alimentos dos EUA. As empresas vendedoras enfrentam gigantesca burocracia, sobretudo porque a comercialização tem de passar pela intermediação de um terceiro país, já que o bloqueio proíbe relações diretas entre EUA e Cuba. O comprador é obrigado a pagar adiantado e não pode vender seus produtos aos usamericanos; os navios retornam vazios aos portos de origem.
Os recentes furacões Gustav e Ike provocaram muitos danos à Ilha. Áreas agrícolas foram devastadas, 444 mil moradias afetadas, das quais 67 mil totalmente destruídas. Com a alta dos preços dos alimentos no mercado internacional, Cuba só não está com a corda no pescoço graças à solidariedade internacional, inclusive da União Européia e do Brasil.
O governo cubano solicitou à Casa Branca uma trégua no bloqueio nos próximos seis meses, por razões humanitárias. Até agora, Bush mantém completo silêncio. Contudo, a máquina publicitária da Casa Branca trata de camuflar a omissão presidencial com uma série de mentiras, como a oferta de US$ 5 milhões aos cubanos vítimas dos furacões.
Ora, o que representa essa ninharia diante dos US$ 46 milhões que a Usaid recebeu este ano para financiar grupos mercenários dedicados ao terrorismo anticubano? E outros US$ 40 milhões foram liberados para manter as transmissões de rádio e TV contra o regime de Cuba.
Apesar de o bloqueio causar mais danos que todos os furacões que já afetaram Cuba, a nação resiste e, agora, se mobiliza em amplos mutirões para consertar os estragos causados pela natureza e aprimorar a produção agrícola, graças às recentes medidas que facilitam aos camponeses acesso às terras onde, outrora, se cultivava cana-de-açúcar. Além de ter no Estado um comprador seguro, os agricultores cubanos poderão vender diretamente ao consumidor.
Sem olhar para o próprio umbigo, Cuba reitera sua solidariedade internacional e envia médicos às vítimas dos furacões no Haiti, e mantêm médicos e professores em mais de 70 países, a maioria pobres.
A história é uma velha senhora que nos surpreende a cada dia: quem imaginaria, há um ano, que o socialismo cubano veria a crise financeira de Wall Street, e o Estado mais capitalista do mundo contradizer todos os seus discursos e intervir no mercado para tentar salvar bancos e empresas? Como fica o dogma da imaculada concepção de que fora do mercado não há salvação?
PS: Contribuições para compra de alimentos e remédios a serem remetidos às vítimas dos furacões em Cuba podem ser remetidas a: Associação Ação Solidária Madre Cristina, Banco do Brasil 4328-1, Conta 6654-0.
*Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
No próximo 29 de outubro, a Assembléia Geral da ONU, após ouvir o informe apresentado pelo secretário-geral, Ban Ki Moon, votará o projeto de Cuba visando à suspensão do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto à ilha do Caribe pelo governo dos EUA desde 1959.
Será a 17ª vez que a ONU tratará deste tema. Em 2007, dos 192 países-membros das Nações Unidas, 184 votaram a favor do projeto que pedia a suspensão. Infelizmente, suas resoluções não têm caráter obrigatório, exceto as do Conselho de Segurança.
O fato de a maioria dos países condenarem, por 16 vezes, o bloqueio representa um gesto de solidariedade à Ilha e uma derrota moral para a Casa Branca, cuja prepotência se evidencia por não ter a menor consideração para o que pensa a comunidade internacional, que repudia a hostilidade usamericana.
O bloqueio é o principal obstáculo ao desenvolvimento de Cuba. Ano passado, representou, para o país, prejuízo de US$ 3,775 bilhões. Ao longo dos 50 anos de Revolução, calcula-se que o total do prejuízo chegue a US$ 224,6 bilhões, levando em conta a desvalorização do dólar e suas flutuações no decorrer do tempo.
O bloqueio é um polvo com tentáculos extraterritoriais, violando o direito internacional, em especial a Convenção de Genebra, que o qualifica de genocídio. Empresas, bancos e cidadãos que mantêm relações econômicas, comerciais ou financeiras com Cuba sofrem perseguições. A exemplo do que fez a China durante as Olimpíadas, também o governo usamericano bloqueia sites da Internet relacionados com Cuba.
A muito custo o governo cubano tem conseguido abrir pequenas brechas no bloqueio, como ao comprar alimentos dos EUA. As empresas vendedoras enfrentam gigantesca burocracia, sobretudo porque a comercialização tem de passar pela intermediação de um terceiro país, já que o bloqueio proíbe relações diretas entre EUA e Cuba. O comprador é obrigado a pagar adiantado e não pode vender seus produtos aos usamericanos; os navios retornam vazios aos portos de origem.
Os recentes furacões Gustav e Ike provocaram muitos danos à Ilha. Áreas agrícolas foram devastadas, 444 mil moradias afetadas, das quais 67 mil totalmente destruídas. Com a alta dos preços dos alimentos no mercado internacional, Cuba só não está com a corda no pescoço graças à solidariedade internacional, inclusive da União Européia e do Brasil.
O governo cubano solicitou à Casa Branca uma trégua no bloqueio nos próximos seis meses, por razões humanitárias. Até agora, Bush mantém completo silêncio. Contudo, a máquina publicitária da Casa Branca trata de camuflar a omissão presidencial com uma série de mentiras, como a oferta de US$ 5 milhões aos cubanos vítimas dos furacões.
Ora, o que representa essa ninharia diante dos US$ 46 milhões que a Usaid recebeu este ano para financiar grupos mercenários dedicados ao terrorismo anticubano? E outros US$ 40 milhões foram liberados para manter as transmissões de rádio e TV contra o regime de Cuba.
Apesar de o bloqueio causar mais danos que todos os furacões que já afetaram Cuba, a nação resiste e, agora, se mobiliza em amplos mutirões para consertar os estragos causados pela natureza e aprimorar a produção agrícola, graças às recentes medidas que facilitam aos camponeses acesso às terras onde, outrora, se cultivava cana-de-açúcar. Além de ter no Estado um comprador seguro, os agricultores cubanos poderão vender diretamente ao consumidor.
Sem olhar para o próprio umbigo, Cuba reitera sua solidariedade internacional e envia médicos às vítimas dos furacões no Haiti, e mantêm médicos e professores em mais de 70 países, a maioria pobres.
A história é uma velha senhora que nos surpreende a cada dia: quem imaginaria, há um ano, que o socialismo cubano veria a crise financeira de Wall Street, e o Estado mais capitalista do mundo contradizer todos os seus discursos e intervir no mercado para tentar salvar bancos e empresas? Como fica o dogma da imaculada concepção de que fora do mercado não há salvação?
PS: Contribuições para compra de alimentos e remédios a serem remetidos às vítimas dos furacões em Cuba podem ser remetidas a: Associação Ação Solidária Madre Cristina, Banco do Brasil 4328-1, Conta 6654-0.
*Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
LULA VETA ADIÇÃO DE AMIDO DE MANDIOCA À FARINHA DE TRIGO
da Agencia Estado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou integralmente o projeto de lei que exigia a adição de amido de mandioca à farinha de trigo comprada pelo poder público. Em mensagem ao Congresso publicada na edição de hoje do "Diário Oficial da União", Lula explica que decidiu vetar a proposta porque, entre outros motivos, "haverá grande dificuldade para a comprovação da garantia de que o produto tenha a composição proposta", como alertaram os ministérios da Agricultura, da Justiça e da Fazenda.
O presidente avaliou, também, depois de ouvir representantes desses ministérios, que não seria possível para os moinhos separar lotes específicos da farinha de trigo destinados ao governo e ao mercado tradicional, para os quais o produto conteria a mistura.
A proposta da mistura (Projeto de Lei nº 22, de 2007), de autoria do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), foi aprovada em setembro pela Câmara e em outubro pelo Senado. O projeto previa isenção de PIS/Cofins para os moinhos, mas o presidente Lula argumenta que essa isenção não acrescentaria benefícios ao setor, uma vez que a farinha de trigo, "tanto em seu estado puro quanto misturada ou associada a outras matérias, já se encontra desonerada da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins."
No primeiro ano de vigência da lei, o porcentual de adição de amido de mandioca à farinha de trigo seria de 3%; no segundo ano, de 6%; e, a partir do terceiro ano, de 10%. Desde o final do ano passado, os donos de moinhos pressionavam o governo para vetar o projeto, alegando que a isenção fiscal não compensaria possíveis prejuízos.
Na mensagem publicada hoje no "Diário Oficial", o presidente Lula afirma que o projeto contraria o interesse público e que concorda com a versão dos fabricantes de que o setor seria prejudicado com a nova lei. O presidente observa, ainda, que a quantidade de farinha comprada pelo Poder Público é inexpressiva e que a adição de amido de mandioca à farinha não reduziria de forma significativa a dependência brasileira de importação de trigo.
"Como a produção será distinta quando destinada ao governo ou ao mercado tradicional, os moinhos terão que preparar lotes específicos, o que tenderá a aumentar o custo e o preço do produto, sobretudo se os volumes de compra não forem muito elevados", destaca a mensagem presidencial.
Link original: http://www.atarde.com.br/economia/noticia.jsf?id=981260
*
Leia mais
Lula veta adição de mandioca à farinha de trigo
Relator: lobby causou veto a derivados de mandioca na farinha de trigo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou integralmente o projeto de lei que exigia a adição de amido de mandioca à farinha de trigo comprada pelo poder público. Em mensagem ao Congresso publicada na edição de hoje do "Diário Oficial da União", Lula explica que decidiu vetar a proposta porque, entre outros motivos, "haverá grande dificuldade para a comprovação da garantia de que o produto tenha a composição proposta", como alertaram os ministérios da Agricultura, da Justiça e da Fazenda.
O presidente avaliou, também, depois de ouvir representantes desses ministérios, que não seria possível para os moinhos separar lotes específicos da farinha de trigo destinados ao governo e ao mercado tradicional, para os quais o produto conteria a mistura.
A proposta da mistura (Projeto de Lei nº 22, de 2007), de autoria do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), foi aprovada em setembro pela Câmara e em outubro pelo Senado. O projeto previa isenção de PIS/Cofins para os moinhos, mas o presidente Lula argumenta que essa isenção não acrescentaria benefícios ao setor, uma vez que a farinha de trigo, "tanto em seu estado puro quanto misturada ou associada a outras matérias, já se encontra desonerada da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins."
No primeiro ano de vigência da lei, o porcentual de adição de amido de mandioca à farinha de trigo seria de 3%; no segundo ano, de 6%; e, a partir do terceiro ano, de 10%. Desde o final do ano passado, os donos de moinhos pressionavam o governo para vetar o projeto, alegando que a isenção fiscal não compensaria possíveis prejuízos.
Na mensagem publicada hoje no "Diário Oficial", o presidente Lula afirma que o projeto contraria o interesse público e que concorda com a versão dos fabricantes de que o setor seria prejudicado com a nova lei. O presidente observa, ainda, que a quantidade de farinha comprada pelo Poder Público é inexpressiva e que a adição de amido de mandioca à farinha não reduziria de forma significativa a dependência brasileira de importação de trigo.
"Como a produção será distinta quando destinada ao governo ou ao mercado tradicional, os moinhos terão que preparar lotes específicos, o que tenderá a aumentar o custo e o preço do produto, sobretudo se os volumes de compra não forem muito elevados", destaca a mensagem presidencial.
Link original: http://www.atarde.com.br/economia/noticia.jsf?id=981260
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Lula veta adição de mandioca à farinha de trigo
Relator: lobby causou veto a derivados de mandioca na farinha de trigo
BLOG ESTIMULA DEBATE SOBRE CONSUMO SOLIDÁRIO
por Zema Ribeiro
O blog Consumo Solidário busca ser um canal alternativo de comunicação, pautando temas como economia solidária, consumo responsável, comércio justo e desenvolvimento sustentável.
Discutir economia solidária e divulgar ações de diversas entidades é o objetivo do blog Consumo Solidário, canal alternativo de comunicação recém-criado pela Cáritas Brasileira Regional Maranhão. A página pode ser acessada no endereço http://consumosolidario.blogspot.com. Interessados/as em ter material publicado podem escrever para consumosolidario@gmail.com.
A idéia é promover o debate de questões como economia solidária, consumo responsável, comércio justo, desenvolvimento sustentável, agroecologia, segurança alimentar, entre outros. "O blog está sendo alimentado na Cáritas, mas entidades interessadas podem e devem colaborar, enviando material dentro dos temas que norteiam as discussões. Só a Rede Mandioca, por exemplo, já tem 42 entidades-membro. Todas estão convidadas a fazer uso desse espaço", convida Jaime Conrado, assessor técnico da Cáritas Brasileira Regional Maranhão e um dos coordenadores da Rede Mandioca no Estado.
Para Ricarte Almeida Santos, assessor de Políticas Públicas da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, "a criação de canais alternativos de comunicação é importante, já que nem sempre os meios de comunicação tradicionais são simpáticos aos ideais que norteiam essas entidades, que pautam esses temas, e nesse aspecto as possibilidades da internet são fantásticas".
No Consumo Solidário há o apoio explícito aos grupos produtivos e uma das perspectivas para o uso do blog, em breve, é a comercialização de seus produtos pela internet. "Nossas ferramentas são limitadas, mas a criatividade aliada ao esforço coletivo nos ajudará a superar esses limites", finaliza Jaime Conrado.
*Assessoria de Comunicação da Cáritas Brasileira Regional Maranhão
Link original: http://www.teste.caritasbrasileira.org/noticias.php?code=13&id=392&filtro=5
O blog Consumo Solidário busca ser um canal alternativo de comunicação, pautando temas como economia solidária, consumo responsável, comércio justo e desenvolvimento sustentável.
Discutir economia solidária e divulgar ações de diversas entidades é o objetivo do blog Consumo Solidário, canal alternativo de comunicação recém-criado pela Cáritas Brasileira Regional Maranhão. A página pode ser acessada no endereço http://consumosolidario.blogspot.com. Interessados/as em ter material publicado podem escrever para consumosolidario@gmail.com.
A idéia é promover o debate de questões como economia solidária, consumo responsável, comércio justo, desenvolvimento sustentável, agroecologia, segurança alimentar, entre outros. "O blog está sendo alimentado na Cáritas, mas entidades interessadas podem e devem colaborar, enviando material dentro dos temas que norteiam as discussões. Só a Rede Mandioca, por exemplo, já tem 42 entidades-membro. Todas estão convidadas a fazer uso desse espaço", convida Jaime Conrado, assessor técnico da Cáritas Brasileira Regional Maranhão e um dos coordenadores da Rede Mandioca no Estado.
Para Ricarte Almeida Santos, assessor de Políticas Públicas da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, "a criação de canais alternativos de comunicação é importante, já que nem sempre os meios de comunicação tradicionais são simpáticos aos ideais que norteiam essas entidades, que pautam esses temas, e nesse aspecto as possibilidades da internet são fantásticas".
No Consumo Solidário há o apoio explícito aos grupos produtivos e uma das perspectivas para o uso do blog, em breve, é a comercialização de seus produtos pela internet. "Nossas ferramentas são limitadas, mas a criatividade aliada ao esforço coletivo nos ajudará a superar esses limites", finaliza Jaime Conrado.
*Assessoria de Comunicação da Cáritas Brasileira Regional Maranhão
Link original: http://www.teste.caritasbrasileira.org/noticias.php?code=13&id=392&filtro=5
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
CONSUMO COMO ATO DE SOLIDARIEDADE
por Helio Mattar*
Sinto um completo desalento toda vez que me dou conta da enorme confusão que vive o mundo nos dias de hoje. Parecemos esquecer que, a cada segundo, vivemos um novo e único momento do universo, um momento que nunca antes existiu e que nunca existirá novamente. Parecemos esquecer que vivemos um milagre cotidiano. Tratamos o mundo como se fosse absolutamente evidente, sem mistério.
Glenn Gould, o extraordinário pianista canadense, em uma entrevista na década de 70, apontava para a nossa indiferença cotidiana a esse milagre. Chamava a atenção para o que ensinamos a nossos filhos nas escolas. Ensinamos que dois e dois são quatro e que nossa capital é Brasília. Mas deveríamos também lhes ensinar o que eles de fato são, apontava Gould. Vocês sabem o que vocês são, meu filhos? Vocês são um milagre, uma maravilha! Em todo o mundo não há outro ser exatamente como cada um de vocês! Nos milhões de anos que se passaram e nos milhões de anos que ainda passarão nunca houve e nunca haverá ninguém como cada um de vocês!
A meu ver, se tivéssemos consciência do milagre que somos, talvez deixássemos de subordinar tão fortemente a nossa felicidade aos bens materiais, fugazes e perecíveis, que nos alienam da beleza das pessoas e do mundo, de tudo o que é perene e essencial, nos colocando em uma competição sem fim por um consumo cada vez mais intenso, como se, com isso, pudéssemos criar para nós mesmos uma identidade que nos tornasse diferentes dos nossos semelhantes…
Esta competição coloca em risco a todos os humanos, sem exceção. Na situação atual, em que 1,7 bilhões dos 6,6 bilhões dos habitantes do mundo consomem muito mais do que o necessário, enquanto os demais ou consomem o mínimo necessário ou abaixo desse mínimo, o uso de recursos naturais – ar respirável, água limpa, terras agricultáveis e absorção dos resíduos produzidos pela humanidade – já se encontra em um nível 25% acima do que a Terra é capaz de renovar. E se todos os habitantes do mundo viessem a consumir como os habitantes mais ricos do planeta, precisaríamos de quatro Terras para suprir todo esse consumo, um modelo de produção e consumo, portanto, inviável de ser expandido para toda a humanidade.
De outro lado, tudo o que ocorre no mundo está se tornando cada vez mais interdependente. O aquecimento global é emblemático dessa interdependência, ao levar os seus efeitos perversos a todos os cantos do planeta. Serve para demonstrar, cotidianamente, a correção da frase de Mariana Botta em artigo para a Folha de 26 de dezembro passado, pois “mostra que cada movimento nosso, por menor que seja, estabelece uma relação de causa e conseqüência com a vida de todas as pessoas” mesmo as que não conhecemos ou as que estão muito distante de nós. E serve para nos lembrar que, se a vida no planeta vier a perecer, nenhum de nós terá qualquer privilégio na escolha divina ou na terrena, e pereceremos também.
Nesse sentido, deveria fazer parte da educação mais elementar mostrar que é preciso inverter a lógica perversa da competição pelo consumo e começar a consumir com a consciência voltada para os outros e não apenas para nós mesmos, desta forma tornando o consumo um ato cotidiano de solidariedade.
Pode parecer estranho relacionar consumo e solidariedade. Mas não é solidário o ato de quem economiza os recursos naturais para que não faltem à geração atual e às futuras? Não é solidário o ato de quem busca limitar a emissão de gases de efeito estufa causada pelo seu consumo, para que o planeta não se aqueça ainda mais e as mudanças climáticas, que afetam a todos, não se aprofundem? Não é solidário o ato de quem busca escolher produtos não apenas pela boa qualidade ao menor preço, enfatizando apenas a sua conveniência individual, mas leva em conta as boas ações das empresas produtoras sobre a sociedade e a natureza, e que afetam a todos nós?
O mundo depende da solidariedade para que o viver não se constitua, para ninguém, em um ato de atrevimento. E para que todos possam ter a dignidade de ter algo a perder, não pensando jamais que este algo possa ser a própria vida. Ao repensar o que realmente precisamos, ao reutilizar os produtos até o final de sua vida útil, ao reciclar o que não pode mais ser utilizado, e, especialmente, ao escolher produtos e serviços de empresas mais social e ambientalmente responsáveis, estaremos, voluntária e cotidianamente, levando nossa solidariedade às pessoas e ao planeta por meio de nossos atos de consumo.
Ao consumir com consciência, nos tornamos agentes positivos de transformação, em que cada um estará dando um pouco de si para melhorar o mundo à sua volta, fazendo com que o milagre que somos não seja unicamente uma prova do mistério divino, mas fazendo realizar o divino que temos em nós.
Teremos então consumido solidariamente, com nossa consciência voltada para os outros e não somente para nós mesmos, contribuindo para dar significado a nossas vidas e para reconhecer o privilégio que nos é dado pelo milagre de existir, celebrando a vida e tudo de bom que ela pode trazer a todos nós, apenas passageiros que somos desta extraordinária nave terrena.
*Helio Mattar, 60, é Ph.D. pela Stanford University, foi idealizador, co-fundador e é Diretor Presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.
Escrito em Dezembro de 2007
*
Link original: http://www.ispn.org.br/consumo-como-ato-de-solidariedade
Sinto um completo desalento toda vez que me dou conta da enorme confusão que vive o mundo nos dias de hoje. Parecemos esquecer que, a cada segundo, vivemos um novo e único momento do universo, um momento que nunca antes existiu e que nunca existirá novamente. Parecemos esquecer que vivemos um milagre cotidiano. Tratamos o mundo como se fosse absolutamente evidente, sem mistério.
Glenn Gould, o extraordinário pianista canadense, em uma entrevista na década de 70, apontava para a nossa indiferença cotidiana a esse milagre. Chamava a atenção para o que ensinamos a nossos filhos nas escolas. Ensinamos que dois e dois são quatro e que nossa capital é Brasília. Mas deveríamos também lhes ensinar o que eles de fato são, apontava Gould. Vocês sabem o que vocês são, meu filhos? Vocês são um milagre, uma maravilha! Em todo o mundo não há outro ser exatamente como cada um de vocês! Nos milhões de anos que se passaram e nos milhões de anos que ainda passarão nunca houve e nunca haverá ninguém como cada um de vocês!
A meu ver, se tivéssemos consciência do milagre que somos, talvez deixássemos de subordinar tão fortemente a nossa felicidade aos bens materiais, fugazes e perecíveis, que nos alienam da beleza das pessoas e do mundo, de tudo o que é perene e essencial, nos colocando em uma competição sem fim por um consumo cada vez mais intenso, como se, com isso, pudéssemos criar para nós mesmos uma identidade que nos tornasse diferentes dos nossos semelhantes…
Esta competição coloca em risco a todos os humanos, sem exceção. Na situação atual, em que 1,7 bilhões dos 6,6 bilhões dos habitantes do mundo consomem muito mais do que o necessário, enquanto os demais ou consomem o mínimo necessário ou abaixo desse mínimo, o uso de recursos naturais – ar respirável, água limpa, terras agricultáveis e absorção dos resíduos produzidos pela humanidade – já se encontra em um nível 25% acima do que a Terra é capaz de renovar. E se todos os habitantes do mundo viessem a consumir como os habitantes mais ricos do planeta, precisaríamos de quatro Terras para suprir todo esse consumo, um modelo de produção e consumo, portanto, inviável de ser expandido para toda a humanidade.
De outro lado, tudo o que ocorre no mundo está se tornando cada vez mais interdependente. O aquecimento global é emblemático dessa interdependência, ao levar os seus efeitos perversos a todos os cantos do planeta. Serve para demonstrar, cotidianamente, a correção da frase de Mariana Botta em artigo para a Folha de 26 de dezembro passado, pois “mostra que cada movimento nosso, por menor que seja, estabelece uma relação de causa e conseqüência com a vida de todas as pessoas” mesmo as que não conhecemos ou as que estão muito distante de nós. E serve para nos lembrar que, se a vida no planeta vier a perecer, nenhum de nós terá qualquer privilégio na escolha divina ou na terrena, e pereceremos também.
Nesse sentido, deveria fazer parte da educação mais elementar mostrar que é preciso inverter a lógica perversa da competição pelo consumo e começar a consumir com a consciência voltada para os outros e não apenas para nós mesmos, desta forma tornando o consumo um ato cotidiano de solidariedade.
Pode parecer estranho relacionar consumo e solidariedade. Mas não é solidário o ato de quem economiza os recursos naturais para que não faltem à geração atual e às futuras? Não é solidário o ato de quem busca limitar a emissão de gases de efeito estufa causada pelo seu consumo, para que o planeta não se aqueça ainda mais e as mudanças climáticas, que afetam a todos, não se aprofundem? Não é solidário o ato de quem busca escolher produtos não apenas pela boa qualidade ao menor preço, enfatizando apenas a sua conveniência individual, mas leva em conta as boas ações das empresas produtoras sobre a sociedade e a natureza, e que afetam a todos nós?
O mundo depende da solidariedade para que o viver não se constitua, para ninguém, em um ato de atrevimento. E para que todos possam ter a dignidade de ter algo a perder, não pensando jamais que este algo possa ser a própria vida. Ao repensar o que realmente precisamos, ao reutilizar os produtos até o final de sua vida útil, ao reciclar o que não pode mais ser utilizado, e, especialmente, ao escolher produtos e serviços de empresas mais social e ambientalmente responsáveis, estaremos, voluntária e cotidianamente, levando nossa solidariedade às pessoas e ao planeta por meio de nossos atos de consumo.
Ao consumir com consciência, nos tornamos agentes positivos de transformação, em que cada um estará dando um pouco de si para melhorar o mundo à sua volta, fazendo com que o milagre que somos não seja unicamente uma prova do mistério divino, mas fazendo realizar o divino que temos em nós.
Teremos então consumido solidariamente, com nossa consciência voltada para os outros e não somente para nós mesmos, contribuindo para dar significado a nossas vidas e para reconhecer o privilégio que nos é dado pelo milagre de existir, celebrando a vida e tudo de bom que ela pode trazer a todos nós, apenas passageiros que somos desta extraordinária nave terrena.
*Helio Mattar, 60, é Ph.D. pela Stanford University, foi idealizador, co-fundador e é Diretor Presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.
Escrito em Dezembro de 2007
*
Link original: http://www.ispn.org.br/consumo-como-ato-de-solidariedade
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
APENAS COMÉRCIO JUSTO NÃO BASTA
Problemas estruturais que impedem a produção voltada à alimentação local nunca foram resolvidos dessa forma
por José Antonio Segrelles*
A maior parte das vozes que se fizeram ouvir durante a última reunião da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma, continuaram insistindo nos mesmos raciocínios de sempre quando falam do campo e da pobreza no planeta, ainda que agora seus argumentos estejam reforçados pelo aumento espetacular dos preços dos alimentos – o qual ameaça com a fome milhões de pessoas do mundo subdesenvolvido.
Tais raciocínios são diferentes de acordo com sua procedência. Os governos dos países dominantes, a agroindústria, as grandes firmas de transformação e distribuição de alimentos e os organismos multilaterais (Organização Mundial do Comércio – OMC, Fundo Monetário Internacional – FMI, Banco Mundial – BM) sustentam que a pobreza dos países subdesenvolvidos seria solucionada se houvesse uma maior liberalização comercial no mundo.
Os governos dos países pobres e algumas ONGs, por sua parte, insistem que os ricos deveriam abandonar a proteção às suas agriculturas, eliminando de uma vez por todas as ajudas e subsídios ao setor agropecuário para evitar, assim, uma concorrência desleal nos mercados internacionais. As intenções de uns e outros são muito diferentes, algumas até boas, ainda que, do meu ponto de vista, sejam igualmente equivocadas e ao final desemboquem na implementação de estratégias e receitas muito parecidas.
Livre mercado
Como aponta o historiador Eric Hobsbawn, imaginar que o comércio internacional livre e sem limitações permitirá que os países pobres se aproximem dos ricos vai contra a experiência histórica e o senso comum. Quem ganha mais e melhor com as aberturas de mercados são as corporações transnacionais de grande distribuição organizada. Inclusive as recentes políticas agrárias da União Européia, que tentam adaptar o setor a um comércio internacional livre de travas aduaneiras e de subsídios agrícolas protecionistas, foram feitas para atender às grandes companhias agroalimentares do continente. E estas não se movem exatamente pela solidariedade e nem pelo altruísmo de um comércio internacional mais justo, mas sim pelo interesse em comprar as matérias-primas que utilizam ou os produtos frescos que vendem ao preço mais baixo possível para negociá-los o mais caro que puderem.
Em qualquer um dos casos, e à luz de experiências concretas, a liberalização comercial que preconizam esses paladinos do livre-comércio implica de fato em prejuízo claro para os pobres dos países ricos, mais precisamente, aos agricultores, em benefício quase exclusivo dos ricos dos países pobres, ou, o que dá no mesmo, a oligarquia latifundiária, a agroindústria e os exportadores mais dinâmicos, sem esquecer, claro, das transnacionais que ali atuam.
Agroexportação
Para conseguir as matérias-primas e os produtos agroalimentares a um preço baixo, essas pujantes corporações, com a conivência de muitos governos locais, fomentam os modelos agroexportadores, baseados em uma monocultura depredadora e empobrecedora que arruína os ecossistemas, a agricultura camponesa e a organização social de muitas comunidades rurais. A distribuição organizada precisa de grandes fornecedores capazes de oferecer enormes quantidades de produtos padronizados, a um preço mínimo e no menor tempo possível, e, por isso, procuram os países subdesenvolvidos, onde a terra e a mão-de-obra são baratas e a legislação ambiental e trabalhista são permissivas.
Além disso, o modelo agroexportador supõe que muitos países dediquem as terras de cultivo aos produtos suscetíveis de serem vendidos nos mercadores exteriores (flores, hortaliças, soja, cítricos, cana-de-açúcar), em detrimento da produção alimentar da população local (trigo, arroz, mandioca, feijão). O mundo desenvolvido cada vez consome mais produtos que vêm de longe e fora da estação correta. Tudo isso provoca enorme êxodo rural e leva a fome e a desnutrição para milhões de seres humanos, assim como uma grande contribuição à poluição e ao aquecimento global.
A questão agroalimentar e as ameaças que pairam sobre ela têm muito que ver com a existência de dois modelos produtivos: a agricultura familiar e camponesa e a agroindústria. Este último é dominante e sua influência afeta o mundo camponês até o ponto de contribuir com sua inviabilidade e conseqüente desaparição. Definitivamente, os problemas que oprimem aos agricultores dos países pobres são muito parecidos com aqueles que devem ser enfrentados pelas famílias dos países ricos.
Luta no campo
Apesar dos eloqüentes discursos e declarações oficiais, os quais tranqüilizam as consciências e ajudam a difundir entre a população mundial a preocupação um tanto cínica de muitos governos e das instituições de Washington (FMI e BM), a realidade demonstra que os alimentos sobem de preço constantemente e que cada vez menos pessoas têm acesso a eles.
Por outro lado, o termo comércio justo encontra-se cheio de confusões e ambigüidades. Existe uma visão tradicional cujo enfoque orienta-se sobre a necessidade dos camponeses dos países pobres venderem seus produtos no exterior como forma para sair do subdesenvolvimento. No entanto, há uma outra maneira mais global e crítica de enfrentar a questão, pois sobram pessoas bem intencionadas que compram um produto de um país subdesenvolvido pensando que assim está apoiando os camponeses desses lugares, quando na verdade está contribuindo para fomentar um modelo produtivo depredador e responsável por grandes impactos ambientais e exclusões sociais em amplas áreas do planeta.
O comércio justo serve para sensibilizar a população, até aqui perfeito, mas os graves problemas estruturais que perseguem os camponeses, impedem a produção agrária voltada à alimentação local e ameaçam a soberania alimentar dos povos nunca foram resolvidos dessa forma.
União internacional
Por mais paradoxo que pareça à primeira vista e contra aquilo que se insiste propagandear nas mais diversas instâncias, a melhor forma de defender os camponeses dos países subdesenvolvidos é proteger os agricultores familiares das nações ricas. Assim, o comércio seria mais eqüitativo, o consumo ganharia em responsabilidade e as grandes transnacionais de distribuição e transformação agroalimentares ficariam impossibilitadas de arruinar uns e outros.
Talvez os países subdesenvolvidos devessem renunciar à miragem da liberalização comercial e da assinatura de tratados de livre-comércio com as nações dominantes e se agruparem em blocos regionais políticos e econômico-mercantis que os possibilitariam defender melhor seus interesses, dando proteção aos seus produtores e camponeses mediante a implementação de uma preferência comercial regional similar à que inspirou a Política Agrícola Comum (PAC) quando foi criada a Comunidade Econômica Européia (CEE), em 1957.
*José Antonio Segrelles, catedrático em geografia humana, é diretor do Grupo Interdisciplinar de Estudos Críticos e da América Latina (Giercryal), na Universidad de Alicante (Espanha).
Brasil de Fato, 11 de setembro de 2008
por José Antonio Segrelles*
A maior parte das vozes que se fizeram ouvir durante a última reunião da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma, continuaram insistindo nos mesmos raciocínios de sempre quando falam do campo e da pobreza no planeta, ainda que agora seus argumentos estejam reforçados pelo aumento espetacular dos preços dos alimentos – o qual ameaça com a fome milhões de pessoas do mundo subdesenvolvido.
Tais raciocínios são diferentes de acordo com sua procedência. Os governos dos países dominantes, a agroindústria, as grandes firmas de transformação e distribuição de alimentos e os organismos multilaterais (Organização Mundial do Comércio – OMC, Fundo Monetário Internacional – FMI, Banco Mundial – BM) sustentam que a pobreza dos países subdesenvolvidos seria solucionada se houvesse uma maior liberalização comercial no mundo.
Os governos dos países pobres e algumas ONGs, por sua parte, insistem que os ricos deveriam abandonar a proteção às suas agriculturas, eliminando de uma vez por todas as ajudas e subsídios ao setor agropecuário para evitar, assim, uma concorrência desleal nos mercados internacionais. As intenções de uns e outros são muito diferentes, algumas até boas, ainda que, do meu ponto de vista, sejam igualmente equivocadas e ao final desemboquem na implementação de estratégias e receitas muito parecidas.
Livre mercado
Como aponta o historiador Eric Hobsbawn, imaginar que o comércio internacional livre e sem limitações permitirá que os países pobres se aproximem dos ricos vai contra a experiência histórica e o senso comum. Quem ganha mais e melhor com as aberturas de mercados são as corporações transnacionais de grande distribuição organizada. Inclusive as recentes políticas agrárias da União Européia, que tentam adaptar o setor a um comércio internacional livre de travas aduaneiras e de subsídios agrícolas protecionistas, foram feitas para atender às grandes companhias agroalimentares do continente. E estas não se movem exatamente pela solidariedade e nem pelo altruísmo de um comércio internacional mais justo, mas sim pelo interesse em comprar as matérias-primas que utilizam ou os produtos frescos que vendem ao preço mais baixo possível para negociá-los o mais caro que puderem.
Em qualquer um dos casos, e à luz de experiências concretas, a liberalização comercial que preconizam esses paladinos do livre-comércio implica de fato em prejuízo claro para os pobres dos países ricos, mais precisamente, aos agricultores, em benefício quase exclusivo dos ricos dos países pobres, ou, o que dá no mesmo, a oligarquia latifundiária, a agroindústria e os exportadores mais dinâmicos, sem esquecer, claro, das transnacionais que ali atuam.
Agroexportação
Para conseguir as matérias-primas e os produtos agroalimentares a um preço baixo, essas pujantes corporações, com a conivência de muitos governos locais, fomentam os modelos agroexportadores, baseados em uma monocultura depredadora e empobrecedora que arruína os ecossistemas, a agricultura camponesa e a organização social de muitas comunidades rurais. A distribuição organizada precisa de grandes fornecedores capazes de oferecer enormes quantidades de produtos padronizados, a um preço mínimo e no menor tempo possível, e, por isso, procuram os países subdesenvolvidos, onde a terra e a mão-de-obra são baratas e a legislação ambiental e trabalhista são permissivas.
Além disso, o modelo agroexportador supõe que muitos países dediquem as terras de cultivo aos produtos suscetíveis de serem vendidos nos mercadores exteriores (flores, hortaliças, soja, cítricos, cana-de-açúcar), em detrimento da produção alimentar da população local (trigo, arroz, mandioca, feijão). O mundo desenvolvido cada vez consome mais produtos que vêm de longe e fora da estação correta. Tudo isso provoca enorme êxodo rural e leva a fome e a desnutrição para milhões de seres humanos, assim como uma grande contribuição à poluição e ao aquecimento global.
A questão agroalimentar e as ameaças que pairam sobre ela têm muito que ver com a existência de dois modelos produtivos: a agricultura familiar e camponesa e a agroindústria. Este último é dominante e sua influência afeta o mundo camponês até o ponto de contribuir com sua inviabilidade e conseqüente desaparição. Definitivamente, os problemas que oprimem aos agricultores dos países pobres são muito parecidos com aqueles que devem ser enfrentados pelas famílias dos países ricos.
Luta no campo
Apesar dos eloqüentes discursos e declarações oficiais, os quais tranqüilizam as consciências e ajudam a difundir entre a população mundial a preocupação um tanto cínica de muitos governos e das instituições de Washington (FMI e BM), a realidade demonstra que os alimentos sobem de preço constantemente e que cada vez menos pessoas têm acesso a eles.
Por outro lado, o termo comércio justo encontra-se cheio de confusões e ambigüidades. Existe uma visão tradicional cujo enfoque orienta-se sobre a necessidade dos camponeses dos países pobres venderem seus produtos no exterior como forma para sair do subdesenvolvimento. No entanto, há uma outra maneira mais global e crítica de enfrentar a questão, pois sobram pessoas bem intencionadas que compram um produto de um país subdesenvolvido pensando que assim está apoiando os camponeses desses lugares, quando na verdade está contribuindo para fomentar um modelo produtivo depredador e responsável por grandes impactos ambientais e exclusões sociais em amplas áreas do planeta.
O comércio justo serve para sensibilizar a população, até aqui perfeito, mas os graves problemas estruturais que perseguem os camponeses, impedem a produção agrária voltada à alimentação local e ameaçam a soberania alimentar dos povos nunca foram resolvidos dessa forma.
União internacional
Por mais paradoxo que pareça à primeira vista e contra aquilo que se insiste propagandear nas mais diversas instâncias, a melhor forma de defender os camponeses dos países subdesenvolvidos é proteger os agricultores familiares das nações ricas. Assim, o comércio seria mais eqüitativo, o consumo ganharia em responsabilidade e as grandes transnacionais de distribuição e transformação agroalimentares ficariam impossibilitadas de arruinar uns e outros.
Talvez os países subdesenvolvidos devessem renunciar à miragem da liberalização comercial e da assinatura de tratados de livre-comércio com as nações dominantes e se agruparem em blocos regionais políticos e econômico-mercantis que os possibilitariam defender melhor seus interesses, dando proteção aos seus produtores e camponeses mediante a implementação de uma preferência comercial regional similar à que inspirou a Política Agrícola Comum (PAC) quando foi criada a Comunidade Econômica Européia (CEE), em 1957.
*José Antonio Segrelles, catedrático em geografia humana, é diretor do Grupo Interdisciplinar de Estudos Críticos e da América Latina (Giercryal), na Universidad de Alicante (Espanha).
Brasil de Fato, 11 de setembro de 2008
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
ADIÇÃO DE MANDIOCA AO TRIGO AGUARDA SANÇÃO
Brasília - O projeto de lei da Câmara de autoria do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que autoriza a adição de farinha de mandioca à farinha de trigo e seus derivados adquiridos pelo poder público, foi aprovado no Senado, terça-feira última. De acordo com a proposta, que segue para a sanção presidencial, o percentual de mistura será de 3% no primeiro ano, 6% no segundo e 10% a partir do terceiro.
A farinha de trigo misturada, de acordo com o projeto, será submetida a um regime tributário especial, com reduções de impostos, para estimular a produção e o consumo de farinha de mandioca no país e, ao mesmo tempo, diminuir a forte dependência do trigo. Atualmente, o Brasil importa cerca de 75% do trigo que consome e a mistura pode representar economia de R$ 104 milhões por ano.
Na prática, as prefeituras e os governos estaduais passarão a exigir de seus fornecedores de biscoitos, massas e pães que a farinha de trigo tenha recebido uma parcela de farinha de mandioca. Os moinhos que aceitarem realizar a mistura não pagarão a Cofins e o PIS-Pasep.
[Jornal O Estado do Maranhão, 11 de setembro de 2008, Economia, página 8]
A farinha de trigo misturada, de acordo com o projeto, será submetida a um regime tributário especial, com reduções de impostos, para estimular a produção e o consumo de farinha de mandioca no país e, ao mesmo tempo, diminuir a forte dependência do trigo. Atualmente, o Brasil importa cerca de 75% do trigo que consome e a mistura pode representar economia de R$ 104 milhões por ano.
Na prática, as prefeituras e os governos estaduais passarão a exigir de seus fornecedores de biscoitos, massas e pães que a farinha de trigo tenha recebido uma parcela de farinha de mandioca. Os moinhos que aceitarem realizar a mistura não pagarão a Cofins e o PIS-Pasep.
[Jornal O Estado do Maranhão, 11 de setembro de 2008, Economia, página 8]
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
EDITAL PARA O FUNDO SOLIDÁRIO
Já está disponível para download o Edital para o Fundo Solidário - Rede Mandioca. Sobre o assunto, trata o nº. 3, edição especial do Boletim Informandioca.
O edital pode ser baixado em pdf (para leitura e preenchimento a mão após impressão) e/ou word (preenchimento eletrônico).
Interessados em concorrer têm até o dia 15 de outubro para o envio dos projetos à Cáritas Brasileira Regional Maranhão, na Rua do Alecrim, 343, Centro, CEP 65.010-040, São Luís/MA.
O edital pode ser baixado em pdf (para leitura e preenchimento a mão após impressão) e/ou word (preenchimento eletrônico).
Interessados em concorrer têm até o dia 15 de outubro para o envio dos projetos à Cáritas Brasileira Regional Maranhão, na Rua do Alecrim, 343, Centro, CEP 65.010-040, São Luís/MA.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
BOLETIM INFORMANDIOCA Nº. 2 PARA DOWNLOAD
Acima, imagem da plenária de criação da Rede Mandioca, em Vargem Grande/MA. Essa e outras imagens e outras informações podem ser acessas no nº. 2 do Boletim Informandioca, já disponível on-line. Para baixar e ler, clique aqui.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
CONSUMO SOLIDÁRIO E RESPONSÁVEL
Por Leonardo Boff
23 de abril de 2008
O consumismo que a cultura do capital gestou está na base da fome de bilhões de pessoas e da atual falta de alimentos da humanidade. Em face de tal situação como deveria ser o consumo humano?
Em primeiro lugar o consumo deve ser adequado à natureza do ser humano. Esta, por um lado, é material, enraizada na natureza e precisamos de bens materiais para subsistir. Por outro lado, é espiritual que se alimenta com bens intangíveis como a solidariedade, o amor, a acolhida e a abertura ao Infinito.
Se estas duas dimensões não forem atendidas nos tornaremos anêmicos no corpo e no espírito. Em segundo lugar, o consumo precisa ser justo e equitativo. A Declaração dos Direitos Humanos afirma que a alimentação é uma necessidade vital e por isso um direito fundamental de cada pessoa humana (justiça) e conforme as singularidades de cada um (equidade). Não atendido este direito, a pessoa se confronta diretamente com a morte.
Em terceiro lugar, o consumo deve ser solidário. É solidário aquele consumo que supera o individualismo e se autolimita por causa do amor e da compaixão para com aqueles que não podem consumir o necessário. A solidariedade se expressa pela partilha, pela participação e pelo apoio aos movimentos que buscam os meios de vida, como terra, moradia e saúde. Implica também a disposição de sofrer e de correr riscos que tal solidariedade comporta.
Em quarto lugar, o consumo há de ser responsável. É responsável o consumidor que se dá conta das conseqüências do padrão de consumo que pratica, se suficiente e decente ou sofisticado e suntuoso. Consome o que precisa ou desperdiça aquilo que vai faltar na mesa dos outros. A responsabilidade se traduz por um estilo sóbrio, capaz de renunciar não por ascetismo mas por amor e em solidariedade para com os que sofrem necessidades. Trata-se de uma opção pela simplicidade voluntária e por um padrão conscientemente contido, que não se submete aos reclamos do desejo nem às solicitações da propaganda. Mesmo que não tenha conseqüências imediatas e visíveis, esta atitude vale por ela mesma. Mostra uma convicção que não se mede pelos efeitos esperados mas pelo valor que esta atitude humana possui em si mesma.
Por fim, o consumo deve ser realizador da integralidade do ser humano. Este tem necessidade de conhecimento e então consumimos os muitos saberes com o discernimento sobre qual deles convém e edifica. Temos necessidade de comunicação e de relacionamentos e satisfazemos esta necessidade alimentando relações pessoais e sociais que nos permitem dar e receber e nesta troca nos complementamos e crescermos. Às vezes esta comunicação se realiza participando de manifestações em favor da justiça, da reforma agrária, do cuidado pela água potável, da preservação da natureza, ou também vendo um filme, assistindo a um concerto, indo a um teatro, visitando uma exposição artística, participando de algum debate.
Temos necessidade de amar e de sermos amados. Satisfazemos esta necessidade amando com gratuidade as pessoas e os diferentes de nós. Temos necessidade de transcendência, de ousarmos e de estarmos para além de qualquer limite imposto, de mergulharmos em Deus com quem podemos comungar. Todas estas formas de consumo realizam a existência humana em suas múltiplas dimensões.
Estas formas de consumo não custam e não gastam energia, pressupõem apenas o empenho e a abertura para a solidariedade, para a compaixão e para a beleza.
Tudo isso não traduz aquilo que pensamos quando falamos em felicidade?
Leonardo Boff é teólogo
23 de abril de 2008
O consumismo que a cultura do capital gestou está na base da fome de bilhões de pessoas e da atual falta de alimentos da humanidade. Em face de tal situação como deveria ser o consumo humano?
Em primeiro lugar o consumo deve ser adequado à natureza do ser humano. Esta, por um lado, é material, enraizada na natureza e precisamos de bens materiais para subsistir. Por outro lado, é espiritual que se alimenta com bens intangíveis como a solidariedade, o amor, a acolhida e a abertura ao Infinito.
Se estas duas dimensões não forem atendidas nos tornaremos anêmicos no corpo e no espírito. Em segundo lugar, o consumo precisa ser justo e equitativo. A Declaração dos Direitos Humanos afirma que a alimentação é uma necessidade vital e por isso um direito fundamental de cada pessoa humana (justiça) e conforme as singularidades de cada um (equidade). Não atendido este direito, a pessoa se confronta diretamente com a morte.
Em terceiro lugar, o consumo deve ser solidário. É solidário aquele consumo que supera o individualismo e se autolimita por causa do amor e da compaixão para com aqueles que não podem consumir o necessário. A solidariedade se expressa pela partilha, pela participação e pelo apoio aos movimentos que buscam os meios de vida, como terra, moradia e saúde. Implica também a disposição de sofrer e de correr riscos que tal solidariedade comporta.
Em quarto lugar, o consumo há de ser responsável. É responsável o consumidor que se dá conta das conseqüências do padrão de consumo que pratica, se suficiente e decente ou sofisticado e suntuoso. Consome o que precisa ou desperdiça aquilo que vai faltar na mesa dos outros. A responsabilidade se traduz por um estilo sóbrio, capaz de renunciar não por ascetismo mas por amor e em solidariedade para com os que sofrem necessidades. Trata-se de uma opção pela simplicidade voluntária e por um padrão conscientemente contido, que não se submete aos reclamos do desejo nem às solicitações da propaganda. Mesmo que não tenha conseqüências imediatas e visíveis, esta atitude vale por ela mesma. Mostra uma convicção que não se mede pelos efeitos esperados mas pelo valor que esta atitude humana possui em si mesma.
Por fim, o consumo deve ser realizador da integralidade do ser humano. Este tem necessidade de conhecimento e então consumimos os muitos saberes com o discernimento sobre qual deles convém e edifica. Temos necessidade de comunicação e de relacionamentos e satisfazemos esta necessidade alimentando relações pessoais e sociais que nos permitem dar e receber e nesta troca nos complementamos e crescermos. Às vezes esta comunicação se realiza participando de manifestações em favor da justiça, da reforma agrária, do cuidado pela água potável, da preservação da natureza, ou também vendo um filme, assistindo a um concerto, indo a um teatro, visitando uma exposição artística, participando de algum debate.
Temos necessidade de amar e de sermos amados. Satisfazemos esta necessidade amando com gratuidade as pessoas e os diferentes de nós. Temos necessidade de transcendência, de ousarmos e de estarmos para além de qualquer limite imposto, de mergulharmos em Deus com quem podemos comungar. Todas estas formas de consumo realizam a existência humana em suas múltiplas dimensões.
Estas formas de consumo não custam e não gastam energia, pressupõem apenas o empenho e a abertura para a solidariedade, para a compaixão e para a beleza.
Tudo isso não traduz aquilo que pensamos quando falamos em felicidade?
Leonardo Boff é teólogo
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
A REVOLUÇÃO DAS REDES
--- RESENHA ---
Editora Vozes, 2000, 1ª. edição, 220 páginas
por Paulo César Carbonari
A Revolução das Redes [imagem: Reprodução capa. Editora Vozes] é um livro que aponta alternativa séria e consistente ao modelo capitalista atual. Articulando temas filosóficos, sociais, políticos e seus desdobramentos econômicos, oferece alento teórico e instrumentos práticos de ação para a organização das classes populares e dos excluídos.
É a primeira obra publicada por Mance, um filósofo e educador, militante das causas populares. Incansável na luta pela justiça, atua há anos como educador junto a movimentos populares, sendo um dos assessores da Central de Movimentos Populares. Exímio filósofo, é um dos principais divulgadores da Filosofia Latino-Americana da libertação no Brasil, tendo sido fundador e presidente do Instituto de Filosofia da Libertação (IFIL), sediado em Curitiba, PR. O livro é a sistematização de sua busca por um modelo alternativo com força capaz de mobilizar agentes sociais e de motivar à organização da sociedade em vista da transformação do atual estado das coisas sociais, políticas e econômicas.
A reflexão é apresentada em dois longos capítulos, com seis anexos. O primeiro capítulo apresenta e discute conceitos fundamentais, O segundo expõe a proposta de redes de colaboração solidária. Os conceitos fundantes são trabalhados de maneira consistente, fazendo a revisão da literatura sobre o assunto e, acima de tudo, sistematizando a prática histórica de diversos agentes sociais. O conceito central é o de colaboração solidária, articulado à importância da organização de espaços públicos não-estatais em torno do consumo como mediação para o bem-viver. As redes de colaboração solidária aparecem como a alternativa organizativa em vista do enfrentamento da globalização capitalista.
As redes são apresentadas em sua dimensão econômica fundamental, através da descrição exaustiva dos processos de organização em suas diversas dimensões estruturais, sempre tendo em vista a formulação de condições de desenvolvimento de uma economia solidária centrada na colaboração solidária. O texto também se ocupa de discutir alguns equívocos sobre a economia solidária. Explora especialmente o potencial de resistência e de real alternativa estratégica ao modelo capitalista nela contido. Como argumento forte neste sentido, mostra a importância de centrar o debate sobre economia solidária na colaboração solidária, um conceito mais complexo e completo que o primeiro.
Ao final do segundo capítulo, debate brevemente as dimensões política e cultural da colaboração solidária. Nos anexos apresenta questões complementares relevantes para a organização prática da proposta que sustenta ao longo do texto.
O debate sobre economia solidária tem crescido no seio das organizações populares. O texto de Mance se insere neste contexto e oferece um diferencial político fundamental. Segundo o autor, não basta preconizar uma economia solidária, é preciso encontrar um elemento articulador fundante para que as diversas experiências históricas sejam potencializadas para além da resistência, pura e simples, ao modelo capitalista. O nó górdio diferencial está no conceito de colaboração solidária. Citando o texto:
"O objetivo da colaboração solidária é garantir a todas aspessoas as melhores condições materiais, políticas, educativas e informacionais para o exercício de sua liberdade, promovendo assim o bem-viver de todos e de cada um. Não se trata apenas de uma proposta econômica para gerar empregos e distribuir renda. Mais do que isso, trata-se de uma compreensão filosófica da existência humana segundo a qual o exercício da liberdade privada só é legítimo quando deseja a liberdade pública, quando deseja que cada outro possa viver eticamente a sua singularidade dispondo das mediações que lhe sejam necessárias para realizar -- nas melhores condições possíveis -- a sua humanidade, exercendo a sua própria liberdade. Igualmente, sob esta mesma compreensão, a liberdade pública somente e exercida de modo ético quando promove a ética realização da liberdade privada" (p. 179).
A novidade organizativa está em levar a sério o consumo, recuperando a velha idéia de que consumo e produção estão estreitamente articulados. Numa sociedade marcada pelo consumo alienado, que transforma supérfluos em necessidades, a proposição do consumo solidário indica a possibilidade de organização coletiva do consumo. Partindo do consumo compulsório (aquilo que é realmente necessidade básica), pode-se abrir mecanismos de potencialização, em cadeia, da produção de bens e serviços. A idéia de consumo solidário entende o consumo como mediação do bem-viver que, por sua vez, é, sempre, de algum modo, um compartilhar. Segundo o autor:
"Praticar o consumo como mediação do bem-viver requer o refinainento das sensibilidades e sentidos humanos, bem como o desenvolvimento de critérios avaliativos a partir dos quais selecionam-se os objetos, dentro das possibilidades de consumo que cada um tenha, que venham a contribuir, da melhor maneira, com a singulariza ção de cada pessoa, com o bem-estar social e com a preservação dos ecossistemas. Assim, para que se possa generalizar socialmente o "consumo como mediação do bem-viver" é necessário superar tanto as formas de consumo compulsório quanto as formas de consumo alienante" (p. 28).
O consumo solidário, como mediação do bem-viver, indica a possibilidade de ir construindo processualmente uma nova sociedade pós-capitalista, organizada na base da colaboração solidária.
O modelo organizativo para concretizar a colaboração solidária é a formação de redes. A rede é a conexão entre as diversas iniciativas inicialmente isoladas e a multiplicação de células potencializada pela própria rede, sob os princípios da intensividade, da extensividade, da diversidade, da integralidade e da agregação. A construção de redes, segundo o autor oferece condições para acumular poder em vista de promover uma verdadeira revolução, tanto no sentido econômico quanto social, político e cultural. Esta revolução, especialmente do ponto de vista cultural, síntese do conjunto da revolução em sentido amplo, terá condições de afetar cinco áreas fundamentais da organização da vida:
"a) socialização e produção de conhecimentos científicos e tecnológicos;
b) difusão de uma nova ética centrada na colaboração solidária que visa promover as liberdades públicas e privadas;
c) difusão de uma nova política;
d) difusão generalizada de práticas artísticas mediadas pelas mais diversas linguagens, promovendo a livre expressão;
e) utilização dos mais variados mecanismos de comunicação por parte do conjunto da sociedade, possibilitando a cada pessoa exercer um papel ativo no processo de emissão e recepção de mensagens" (p. 39).
As redes de colaboração solidária, organizadas pela iniciativa dos próprios excluídos, têm um potencial forte de transformação em vista de um novo sistema de organização da vida, centrada no bem-viver de todos e de cada um. O novo modelo propõe: a) contra o individualismo, a colaboração solidária; b) contra a competitividade, a solidariedade; c) contra o desemprego, a geração de emprego; d) contra a destruição dos ecossistemas, o desenvolvimento ecologicamente sustentável; e) contra a exploração do trabalho, a redução da jornada de trabalho e o aumento do tempo livre; f) contra a dependência dos capitais externos, o aumento da poupança interna; g) contra a concentração de capitais, a distribuição da riqueza; h) contra o crescimento de metrópoles, o desenvolvimento sustentado e geograficamente distribuído; e i) contra a iniciativa privada, a livre iniciativa solidária.
A proposta defendida pelo autor é, sem sombra de dúvidas, ousada e desafiante. Num tempo em que o senso comum parece nos jogar na impossibilidade de identificar alternativas ao falso consenso da saída única através da globalização do capital, a proposta de Mance mostra que é possível buscar outros consensos. A profundidade e a multidimensionalidade da reflexão proposta por ele convoca ao permanente exercício de formulação teórica e prática de caminhos alternativos. Sua proposição tem a intenção de mostrar que o tempo das experiências de laboratório em termos de construção de alternativas ao capitalismo está precisando ser superado. Estamos ante a necessidade e a possibilidade de enfrentar com força o ídolo de pés de barro, corroendo-o por dentro e atacando-o de frente. Mais do que uma bela intenção, a proposta sustentada por Mance mostra, com argumentos consistentes, sua viabilidade histórica. Um chamado concreto contra o conformismo e uma convocação para que todos os que ainda acreditam nos pobres ponham a "mão na massa" é a mensagem prática que o livro enseja.
Publicado em: Revista Libertação Liberación / Nova Fase. Curitiba, Ano 1, N.1, 2000, p.179-182
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